quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Hypatia



Hypatia de Alexandria


séc. IV aC







Como o poder, inclusive o da "religião organizada", pode submeter à sua hierarquia institucional o Saber, a Ciência, a Atitude Científica e a Mulher.


No século XXI dC, é particularmente a última que persiste em ser conformada a uma hierarquia inferiorizante: "por detrás de um grande homem existe sempre uma grande mulher" - Esta afirmação sugere a concordância com um papel feminino de bastidores, modesto, sem se fazer notar publicamente, e sobretudo secundária a um elemento masculino que se salienta.


Como na boa 1ª epístola de S. Paulo a Timóteo (2:12):


"Não se permita que a mulher ensine ou exerça autoridade sobre o marido, mas que permaneça em silêncio"


A motivação para a sujeição deriva dos próprios textos e da demonização de Eva e outros dogmas interessantes, contudo alheios às palavras ou atitudes de Jesus, bom como diverso do papel atribuído à mulher nessa fase da história do cristianismo, porém, tem raízes anteriores e não apenas Judaicas.
Tem também algo de familiar relativamente à posição institucional da Igreja Católica quanto à Guerra, à Escravatura, ao Holocausto Nazi e, claro, está patente no denegrimento do papel histórico de Maria Madalena.
O que se passou nas épocas idas, será difícil agora apurar de momento...
Porém, o que agora se passa em Portugal é fácil avaliar, basta consultar indicadores do INE.


Vejamos:


O que se designa como "índice de masculinidade" nacional (2008) é de 93,8 (homens para cada 100 mulheres).


No painel de trabalhadores por conta de outrem, a diferença mínima por mês (para 2008) é de 115,44€ por mês ou 1.385,28€/ano, correspondendo a um índice de 82 (por cada 100€ ganhos pelos homens).
Esta diferença é no nível de habilitação mínimo (inferior ao 1º ciclo do ensino básico), já no nível de habilitação máximo (doutoramento) a diferença é de 901,67€ por mês ou 10.820,04€/ano, correspondente a um índice de 66, ou seja, perto de metade do que ganham os homens.
Dado o crescimento real (sensivelmente zero) da população, o envelhecimento em aceleração, a taxa de nupcialidade em diminuição, e o superior grau de educação das mulheres (53,5% de mulheres inscritas no ensino superior, e 59,6% de mulheres diplomadas em 2007/08), podemos adivinhar para o futuro uma significativa diminuição dos encargos globais com ordenados...serão mais mulheres, com mais habilitações, o que significa que o volume de ordenados será menor.
Boas notícias para o tecido empregador, que tendo perdido a rentabilidade óptima da mão-de-obra escrava e não podendo depender na totalidade da mão-de-obra semi-escrava dos imigrantes ilegais ou legais mas sem conhecimento da língua ou do seu passaporte - honra devida à indústria da construção civil que habilidosamente e com total ausência de escrúpulos lida bem com esta fonte de rendimento, há pois que recorrer às mulheres.

Isto, claro, presumindo que a ideologia discriminatória de género se mantém, o que é provável, dado que é rentável, sustentável, porque cada vez mais mulheres pretendem ser ingressar no mercado de trabalho, e dado que, ao nível das estruturas de poder, em 2001, contra uma média europeia de 24,7%, perto de 1/4, Portugal tinha a menor proporção da UE de mulheres em cargos governamentais: 9,8%.


Muito me admira que possam ser sequer professoras...e estar-se-ía apenas a respeitar escritos respeitáveis...


Não se entende então muito bem em que mudaram as mentalidades desde IV aC, ou porque sequer se tornou universal o voto, em 1974...


É muito interessante notar quais os países com maior e menor taxa de mulheres nos governos:


(European Database/Women in Decision Making)


50% - Suécia


42.9 - Dinamarca


38.9 - Finlândia


38.6 - Alemanha


----------------------------


Portugal- 9.8


Itália - 10.3


Grécia - 12.5


Espanha - 17.6





Está na hora de repensar as "causas da decadência" de certos países, culturalmente a Sul, não só porque geograficamente a Sul, mas porque neles são subrepresentadas as mulheres que lá vivem, estudam e trabalham.

E já agora, que aderem a sindicatos...

Por todas as "Hypatias": pensem...

Sem comentários:

Enviar um comentário