quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Palavras para.

Mudaram as palavras para denominar cargos.
As criadas passaram a empregadas domésticas, os 'servants' passaram a 'helpers', as mães que não trabalhavam passaram a domésticas - porque todas tinham de ter uma classificação no ranking laboral, porque uma profissão era exigida, e porque isso correspondia a uma numeração - à atribuição de um número, para desumanizar a pessoa.

Mudaram as palavras para elevar categorias de trabalho.
Porque as palavras mudam o pensamento e marcam estatutos.
As empregadas das escolas passaram a auxiliares de educação. Mas as mães não.
É diferente ser 'auxiliar' ou 'empregada', mesmo que o trabalho seja exactamente o mesmo, bem como o salário.
Porque o que se faz não interessa muito, interessa mais o 'conceito', a aparência do que se faz.

Mudaram as palavras para designar entidades. Empresas mudaram de nome. As manobras de marketing correspondem a um 'lavar da imagem', mudança que nem sempre traz novas qualidades, como acreditava Camões...

Porém, uma designação precisa urgentemente de ser mudada:
A fuga ao fisco / evasão fiscal
Fugir, fugir, foge-se de algo mau, evasão é o que se faz quando se foge da prisão. A fuga é algo justificado por si só. Fugimos quando temos medo, fugimos do perigo, fugimos para preservar a nossa integridade.

Já quanto ao fisco - em princípio - é algo BOM. É algo que SERVE a comunidade. É um contributo que se deveria pagar com orgulho de TER para DAR, porque a ser equitativo e justo, participar na colecta corresponde a sucesso no negócio ou actividade.

No entanto, talvez não seja (equitativo e justo).

No entanto, se mudarmos as palavras, pode ser que mude o conceito. Que a fuga ao fisco se torne algo negativo, pejorativo, desaconselhado...

Talvez 'TRABALHO PESADO', como denominação, tornasse a evasão fiscal menos desejada e encarada como maléfica.

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